A NATUREZA COMO UM SER PURO
A
natureza expressa o estado de espírito puro e harmonioso que almejamos na
meditação. O processo de nos aceitarmos como somos na natureza nos deixa
conscientes da progressão simples presente em todas as formas de vida em nosso
planeta: nascimento, morte, regeneração. Essa consciência traz com ela um
sentimento profundo de conexão espiritual. Diante da constatação de que todas
as coisas vivas são uma expressão do espírito, dissipam-se as dualidades do bem
e do mal, da razão e da emoção, que o filósofo do século XVIII Jean - Jacques
Rousseau considerava o resultado do desenvolvimento da humanidade desde a
condição de "bom selvagem" até a de ser humano
"civilizado".
Quando
olhamos a natureza de uma perspectiva mais ampla vemos um vasto sistema
interativo que viabiliza a preservação da vida em todas as suas formas - um
grande drama representado pela chuva e pelo sol irradiando energia de crescimento,
pelo vento dispersando sementes e por predadores assegurando o equilíbrio
natural entre as espécies animais. A teoria de Gaia, proposta por James
Lovelock nos anos 60, vê a Terra como um organismo "inteligente", que
regula e sustenta a si mesmo e reajusta-se constantemente para manter o
equilíbrio necessário à sobrevivência. Assim como cada célula do corpo tem uma
finalidade específica na manutenção da saúde, funcionando em conjunto para
criar um todo intrincado e coerente, cada componente da natureza contribui para
o bom funcionamento de todo o organismo, na complexa teia da vida. Nós mesmos
somos parte dessa teia e para ver isso basta confiar, em vez de temer, os
nossos ciclos de vida e morte.
A
natureza não é apenas um ser puro. Da beleza natural nós tiramos inspiração e
alimento interior. Em caso extremo isso acaba por se transformar num assombro
que nos convence da riqueza da vida e do seu valor espiritual. Um sentimento de
integridade e perfeição nos eleva, fazendo brotar em nós um senso de comunhão
com a força criativa que dá vida a todas essas numerosas formas e existe dentro
de cada uma delas. Entrando em sintonia com esse sentimento, nós nos afastamos
do nosso eu cotidiano, tornando-nos não meras testemunhas ou participantes, mas
algo muito mais significativo - uma espécie de depositário de beleza, de
significado e de alegria.
O
sentimento de alegria, embora requeira meditação profunda para despertar
plenamente, pode surgir de maneira mais diluída quando contemplamos a natureza
externamente, em várias atividades. Caminhar na cidade ou no campo, nadar,
escalar montanhas ou simplesmente sentir o sopro da brisa na pele, tudo isso
desperta e aguça os nossos sentidos e ajuda a afastar da mente os problemas e
distrações do dia a dia e as suas desconfortáveis exigências: desempenhar um
papel, travar lutas pelo poder, demonstrar assertividade e tomar parte da
competição de egos. O ato de se sentar em silêncio para contemplar um cenário
ou detalhe da natureza nos permite entrar no mundo selvagem, transcender as
formas externas rumo à unidade e à universalidade, conhecer a simplicidade da
inteligência pura que subjaz às formas e compreender a infinidade.
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